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segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
Dizem que está tudo bem (mas tá esquisito!)
No Brasil como um todo, os pais estão satisfeitos com a escola dos filhos. O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) pesquisou 10.000 pais em todo o país e eles conferiram nota 8,1 às instalações da escola de seus filhos. Oitenta e um por cento (81%) revelam, sobre os diretores da escola, um parecer positivo. Oitenta e três por cento (83%) têm a opinião que os professores se preocupam em ensinar e dar boas aulas. Finalizando: a nota da qualidade de ensino, dada pelos pais, é 8,6 (!).
Lindo, não é verdade?
Infelizmente, não. Está longe de ser lindo e mais distante ainda de ser verdade. Basta analisarmos outro conjunto de estatísticas para que detectemos várias contradições entre o cenário percebido pelos pais e a dura realidade da educação brasileira, principalmente no que diz respeito às escolas públicas.
De acordo com o Inaf (Indicador de Alfabetismo Funcional) mais recente, 72% da população brasileira não se encontra plenamente alfabetizada. Já pelo Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), revela-se que, desde a primeira edição do exame em 1995, a qualidade do ensino vem caindo. Esse mesmo exame constata que, na 8a série, somente 25% dos alunos sabem que “3/4” é o mesmo que 0,75, e não 3,4. Isso na oitava série ! O Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) destaca que o Brasil fica em 53o lugar em matemática e 52o em ciências, em 57 países testados. De acordo com a Unesco, na 1a série, cerca de 24% de nossos são reprovados, contra 2,5% no Chile e 4% na Índia.
Com esse cenário, um povo que gasta anualmente cerca de 4% de seu PIB (arrecadação bruta do país) em educação pública deveria estar deveras descontente com essa educação e os profissionais envolvidos nessa área. Estes funcionários, por sua vez, teriam que estar incomodados com a desaprovação dos pais e procurando melhorar seu desempenho (não obstante a existência de uma minoria que se destaca pela excelência em sua profissão). Mas no Brasil ocorre quase que o oposto disso.
A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em pesquisa realizada e divulgada no livro O perfil dos professores brasileiros, solicitou que os professores escolhessem, numa lista pré-definida, os fatores que mais influenciam o aprendizado. “Acompanhamento familiar” disparou com 78% dos votos contra somente 32% para “Competência do professor”. No livro Repensando a escola: um estudo sobre os desafios de aprender, ler e escrever, que divulga outra abrangente pesquisa da Unesco e do Inep, há a seguinte declaração dos autores: “Chama a atenção a freqüência com que os professores e diretores se referem à questão da família dos alunos: muito do que acontece de bom e de ruim na escola é explicado pela origem familiar...Raramente é colocada a função primordial da escola na tarefa de ensinar qualquer aluno, de qualquer origem familiar ou social.”
Em vários seminários, palestras e oficinas de educação uma das primeiras questões levantadas pelos professores é: como ensinar com uma família “que não apóia”?
O quadro mais esperado deveria mostrar pais enraivecidos com uma escola que, como se não bastasse não cumprir sua função no ensino, ainda repassa a responsabilidade do fracasso para o aluno e sua família.
Vamos desvendar esse paradoxo, no qual pais consideram tão satisfatória uma escola com resultados tão ruins e por que a comunidade docente vislumbra esses pais tão omissos. Para isso é necessário analisar um fator importantíssimo: que pais são esses.
Retomemos a pesquisa do Inep citada no primeiro parágrafo deste artigo. Dos 10.000 pais entrevistados, 58% não completaram o nível fundamental de ensino. Somente 3% possui diploma de nível superior. Os que raramente lêem livros ou jornais somam 75%. E finalmente, somente 7% acessa a internet. Isso define o perfil desses pais: limitadíssima formação acadêmica e mínimo grau de informação. A qualidade de ensino é para eles um tema extremamente abstrato e intangível, o que lhes dificulta julgá-la. Quando questionados, usam como referência aquilo que seu senso despreparado consegue visualizar - comparam a escola pela qual passaram com a de seus filhos: instalações físicas mais limpas e belas, merenda de qualidade, existe transporte escolar, seus filhos são equipados com uniformes e livros e, o que não ocorria a 3 décadas atrás, há garantia de matrícula. Cinqüenta e sete por cento dos pais afirma que a escola que seus filhos cursam é melhor que a cursada por eles. As oportunidades escolares das quais o filho usufrui (nada mais que obrigações governamentais constitucionais) e que ele não teve, bastam para que o pai se contente. A família, na média dos números, desconhece o processo escolar e carece de fontes de informações mais profundas para perceber que, muitas vezes, a educação que o filho recebe é de qualidade questionável.
Com toda essa inaptidão, não é de se estranhar que a família, não por desamor ou desinteresse, não se envolva na vida estudantil dos filhos. A família média brasileira não possui instrumentos intelectuais para identificar deficiências na educação dos filhos estando muitíssimo menos preparada ainda para apoiar a continuidade do processo de aprendizado no lar e ajudar a escola a sanar deficiências na educação.
Os professores, por sua vez, devem ter em mente essa realidade: os pais de seus alunos (salvo raras exceções) darão, durante um bom tempo ainda, contribuições limitadas ao ensino dos filhos. Ponto! Na grande maioria dos casos, a incapacidade de interferir mais contundentemente nessas questões é fruto de despreparo e não de negligência educativa. Para que esse quadro mude ao longo dos anos, o papel dos professores é ainda mais imprescindível, para que a escola se torne o caminho para que os alunos escapem desse ciclo de ignorância e miséria e se tornem, num amanhã não tão longínquo, os pais que, hoje, os professores tanto gostariam de ter como parceiros da educação. Nós professores e todos os outros profissionais ligados a educação, devemos nos despir das vestes de Pilatos e, deixando de transferir responsabilidades, nos preocuparmos em dar mais de nós mesmos a cada dia de trabalho e aula ministrada. É hora de abandonar o tripé, já desgastado, no qual apoiamos, muitas vezes, a nossa inércia e conveniência: Salários ruins, formação profissional deficiente e falta de apoio da família do aluno. São três problemas reais e que devem ser discutidos e solucionados a nível de classe e sociedade, mas que não devem interferir no nosso afinco em nos tornarmos melhores a cada dia, contando com os instrumentos dos quais dispomos no momento e lutando para que esses instrumentos evoluam no futuro.
Obs: Para confirmar os dados citados no texto acima é só conferir nos links:
www.unesco.com.br
www.inep.gov.br
www.ipm.org.br
www.inep.gov.br/basica/saeb
Lindo, não é verdade?
Infelizmente, não. Está longe de ser lindo e mais distante ainda de ser verdade. Basta analisarmos outro conjunto de estatísticas para que detectemos várias contradições entre o cenário percebido pelos pais e a dura realidade da educação brasileira, principalmente no que diz respeito às escolas públicas.
De acordo com o Inaf (Indicador de Alfabetismo Funcional) mais recente, 72% da população brasileira não se encontra plenamente alfabetizada. Já pelo Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), revela-se que, desde a primeira edição do exame em 1995, a qualidade do ensino vem caindo. Esse mesmo exame constata que, na 8a série, somente 25% dos alunos sabem que “3/4” é o mesmo que 0,75, e não 3,4. Isso na oitava série ! O Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) destaca que o Brasil fica em 53o lugar em matemática e 52o em ciências, em 57 países testados. De acordo com a Unesco, na 1a série, cerca de 24% de nossos são reprovados, contra 2,5% no Chile e 4% na Índia.
Com esse cenário, um povo que gasta anualmente cerca de 4% de seu PIB (arrecadação bruta do país) em educação pública deveria estar deveras descontente com essa educação e os profissionais envolvidos nessa área. Estes funcionários, por sua vez, teriam que estar incomodados com a desaprovação dos pais e procurando melhorar seu desempenho (não obstante a existência de uma minoria que se destaca pela excelência em sua profissão). Mas no Brasil ocorre quase que o oposto disso.
A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em pesquisa realizada e divulgada no livro O perfil dos professores brasileiros, solicitou que os professores escolhessem, numa lista pré-definida, os fatores que mais influenciam o aprendizado. “Acompanhamento familiar” disparou com 78% dos votos contra somente 32% para “Competência do professor”. No livro Repensando a escola: um estudo sobre os desafios de aprender, ler e escrever, que divulga outra abrangente pesquisa da Unesco e do Inep, há a seguinte declaração dos autores: “Chama a atenção a freqüência com que os professores e diretores se referem à questão da família dos alunos: muito do que acontece de bom e de ruim na escola é explicado pela origem familiar...Raramente é colocada a função primordial da escola na tarefa de ensinar qualquer aluno, de qualquer origem familiar ou social.”
Em vários seminários, palestras e oficinas de educação uma das primeiras questões levantadas pelos professores é: como ensinar com uma família “que não apóia”?
O quadro mais esperado deveria mostrar pais enraivecidos com uma escola que, como se não bastasse não cumprir sua função no ensino, ainda repassa a responsabilidade do fracasso para o aluno e sua família.
Vamos desvendar esse paradoxo, no qual pais consideram tão satisfatória uma escola com resultados tão ruins e por que a comunidade docente vislumbra esses pais tão omissos. Para isso é necessário analisar um fator importantíssimo: que pais são esses.
Retomemos a pesquisa do Inep citada no primeiro parágrafo deste artigo. Dos 10.000 pais entrevistados, 58% não completaram o nível fundamental de ensino. Somente 3% possui diploma de nível superior. Os que raramente lêem livros ou jornais somam 75%. E finalmente, somente 7% acessa a internet. Isso define o perfil desses pais: limitadíssima formação acadêmica e mínimo grau de informação. A qualidade de ensino é para eles um tema extremamente abstrato e intangível, o que lhes dificulta julgá-la. Quando questionados, usam como referência aquilo que seu senso despreparado consegue visualizar - comparam a escola pela qual passaram com a de seus filhos: instalações físicas mais limpas e belas, merenda de qualidade, existe transporte escolar, seus filhos são equipados com uniformes e livros e, o que não ocorria a 3 décadas atrás, há garantia de matrícula. Cinqüenta e sete por cento dos pais afirma que a escola que seus filhos cursam é melhor que a cursada por eles. As oportunidades escolares das quais o filho usufrui (nada mais que obrigações governamentais constitucionais) e que ele não teve, bastam para que o pai se contente. A família, na média dos números, desconhece o processo escolar e carece de fontes de informações mais profundas para perceber que, muitas vezes, a educação que o filho recebe é de qualidade questionável.
Com toda essa inaptidão, não é de se estranhar que a família, não por desamor ou desinteresse, não se envolva na vida estudantil dos filhos. A família média brasileira não possui instrumentos intelectuais para identificar deficiências na educação dos filhos estando muitíssimo menos preparada ainda para apoiar a continuidade do processo de aprendizado no lar e ajudar a escola a sanar deficiências na educação.
Os professores, por sua vez, devem ter em mente essa realidade: os pais de seus alunos (salvo raras exceções) darão, durante um bom tempo ainda, contribuições limitadas ao ensino dos filhos. Ponto! Na grande maioria dos casos, a incapacidade de interferir mais contundentemente nessas questões é fruto de despreparo e não de negligência educativa. Para que esse quadro mude ao longo dos anos, o papel dos professores é ainda mais imprescindível, para que a escola se torne o caminho para que os alunos escapem desse ciclo de ignorância e miséria e se tornem, num amanhã não tão longínquo, os pais que, hoje, os professores tanto gostariam de ter como parceiros da educação. Nós professores e todos os outros profissionais ligados a educação, devemos nos despir das vestes de Pilatos e, deixando de transferir responsabilidades, nos preocuparmos em dar mais de nós mesmos a cada dia de trabalho e aula ministrada. É hora de abandonar o tripé, já desgastado, no qual apoiamos, muitas vezes, a nossa inércia e conveniência: Salários ruins, formação profissional deficiente e falta de apoio da família do aluno. São três problemas reais e que devem ser discutidos e solucionados a nível de classe e sociedade, mas que não devem interferir no nosso afinco em nos tornarmos melhores a cada dia, contando com os instrumentos dos quais dispomos no momento e lutando para que esses instrumentos evoluam no futuro.
Obs: Para confirmar os dados citados no texto acima é só conferir nos links:
www.unesco.com.br
www.inep.gov.br
www.ipm.org.br
www.inep.gov.br/basica/saeb
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